quarta-feira, 13 de março de 2013

Um POUCO de TUDO: Francisco I by me

Um POUCO de TUDO: Francisco I by me: E o pássaro anunciou, aguardem, eis que receberemos boa nova, aguardem! Fumaça branca sai da chaminé, habemus papam ! Quanta a....

terça-feira, 29 de março de 2011

O BRASIL EXPLICADO EM GALINHAS by Luis Fernando Veríssimo



O BRASIL EXPLICADO EM GALINHAS

Pegaram o cara em flagrante roubando galinhas de um galinheiro e olevaram para a delegacia.

D - DelegadoL - Ladrão

D - Que vida mansa, heim, vagabundo? Roubando galinha para ter o quecomer sem precisar trabalhar. Vai para a cadeia!

L - Não era para mim não. Era para vender.

D - Pior, venda de artigo roubado. Concorrência desleal com o comércioestabelecido. Sem-vergonha!

L - Mas eu vendia mais caro.

D - Mais caro?

L - Espalhei o boato que as galinhas do galinheiro eram bichadas e asminhas galinhas não. E que as do galinheiro botavam ovos brancos
enquanto as minhas botavam ovos marrons.

D - Mas eram as mesmas galinhas, safado.

L - Os ovos das minhas eu pintava.

D - Que grande pilantra.. (mas já havia um certo respeito no tom do delegado...)

D - Ainda bem que tu vai preso. Se o dono do galinheiro te pega...

L - Já me pegou. Fiz um acerto com ele. Me comprometi a não espalharmais boato sobre as galinhas dele, e ele se comprometeu a aumentar ospreços dos produtos dele para ficarem iguais aos meus. Convidamos outros donos de galinheiros a entrar no nosso esquema. Formamos um oligopólio. Ou, no caso, um ovigopólio..

D - E o que você faz com o lucro do seu negócio?

L - Especulo com dólar. Invisto alguma coisa no tráfico de drogas. Comprei alguns deputados. Dois ou três ministros. Consegui exclusividade no suprimento de galinhas e ovos para programas de alimentação do governo e superfaturo os preços.

O delegado mandou pedir um cafezinho para o preso e perguntou se acadeira estava confortável, se ele não queria uma almofada. Depois
perguntou:

D - Doutor, não me leve a mal, mas com tudo isso, o senhor não está milionário?

L - Trilionário. Sem contar o que eu sonego de Imposto de Renda e o que tenho depositado ilegalmente no exterior.

D - E, com tudo isso, o senhor continua roubando galinhas?

L - Às vezes. Sabe como é.

D - Não sei não, excelência. Me explique.

L - É que, em todas essas minhas atividades, eu sinto falta de uma coisa. O risco, entende? Daquela sensação de perigo, de estar fazendo
uma coisa proibida, da iminência do castigo. Só roubando galinhas eu me sinto  realmente um ladrão, e isso é excitante. Como agora fui preso,finalmente vou para a cadeia. É uma experiência nova.

D - O que é isso, excelência? O senhor não vai ser preso não.

L - Mas fui pego em flagrante pulando a cerca do galinheiro!

D - Sim. Mas primário, e com esses antecedentes...


 (Luis Fernando Veríssimo)